É impressionante como o saudosismo virou negócio: livros, revistas, vídeos, filmes, música. Para todo lugar que você vê, tudo tem que ser lembrado. A memória recente - ou, o saudosismo, citado até de forma pejorativa (nostalgia?) - se tornou palavra comum. Muito comum. Isso não acontece à toa. Falamos muito sobre o que nos aconteceu na infância, adolescência, sobre o que víamos, comíamos, ouvíamos, vivíamos. (Uma reportagem do G1 mostra muito bem esse "fenômeno", não muito novidade).
O maior expoente dessa história, a "Geração 80", está aí pra não me deixar mentir. Começou como algo cult, se tornando algo comum, até povoar, maciçamente, qualquer festa de formatura e casamento que se preze. Eu, nascido exatamente no início dessa década, vejo com muita proximidade esse fenômeno. Virou chavão, no meio de qualquer festa, ter um set de músicas tocando Balão Mágico, Xuxa, Trem da Alegria, Paquitas e afins. Já presenciei uma criança, de seus 12 anos, me perguntar porque tocam essas músicas de criança que ela não conhece e que adultos se acabam de dançar. A solução é dar de ombros: vá entender!
Léo Jaime, Evandro Mesquita, Leoni, Roger e Ritchie (abaixo): "reis" dos anos 1980. |
Mas essa forma de saudosismo não termina por aqui e nem fica restrito aos anos de 1980. Quem já não dançou, ultimamente ao som de Corona, Ace of Base ou Gala numa festinha, lembrando a década de 1990? Ou até mesmo relembrando o som grunge (Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden) , prá mim, o último suspiro de protesto cultural relevante na música?
Nirvana! |
Como disse anteriormente, este fenômeno de "sedução da memória" - parafraseando o filósofo Huyssen - está aí não é à toa. Nossa forma de ver o mundo e, principalmente, de lidar com a memória tragos pela internet, mudou. E de uma maneira muito rápida e brusca.
A internet deixou tudo acessível, livre de amarras, tudo mesmo, ao alcance. Os mais velhos, que não são tão familiarizados com a internet, se vêem perdidos, pois aprenderam de outra forma sobre o que é e o que não é relevante. Já as novas gerações não dão conta de tanta informação. E, por isso, não conseguem criar as referências necessárias para "lembrar" de algo bom. Consequência: ninguém se acha nessa brincadeira.
Por isso, enquanto os mais velhos buscam o refúgio - ou a referência saudosista - nos discos da Xuxa e Balão Mágico, as novas gerações não viram, ainda, nada de interessante que as fizessem se lembrar de algo bom. Mesmo que seja o de ontem. Hoje, os maiores sucessos musicais são os chamados meme, que são repetições de futilidades transformadas em música que fazem sucesso por uma semana e se perdem na imensidão informacional da rede.
Eu não sei se consegui chegar aqui num consenso ou numa conclusão específica. Acho que o texto é mais em um tom de desabafo e de sustentação do argumento de que estamos carecidos de coisas boas pra ouvir ultimamente e lembrar com gosto. Pois o que faz sucesso hoje são Justin Bieber e Lady Gaga. A continuar assim, ainda vamos dançar muito "Estica e Puxa" e "Piuí Abacaxi" nas formaturas, bailes de debutantes e casamentos de todo Brasil...
Não me orgulho de botar esse vídeo no Blog...tudo pela informação...rs...