domingo, 31 de outubro de 2010

TOCA RAMONES!

Existem covers e covers. Alguns covers são simplesmente uma emulação da banda original, quando bem tocados isso é bem bacana, mas quando mal tocado é motivo de vergonha alheia. O Segundo tipo é aquele onde a pessoa coloca um pouco da sua visão ao trabalho original, e são dessas que vem os melhores covers. Chamem de versão. Eu chamo de cover.

Tudo bem, o Adilson já fez a lista dele, mas gostei da ideia de fazer a minha. Vamos lá (em ordem de memória):

1. Richard Cheese and The Lounge Against the Machine

Um sujeito bem conhecido no circuito do Jazz Lounge nos EUA. Tem suas próprias canções, mas se destacou muito com suas versões Lounge para músicas pops. Imaginem Toxic da Britney em ritmo de Lounge Jazz (aquele jazz que toca em todo filme onde há um cassino), ou Beat It, ou ainda Chop Suey. Quem sabe Personal Jesus? Ou talvez Creep? Ice Ice Baby... Smell Like Teen Spirit talvez te agrade mais. Se já teve sua fase metal do mal, talvez um Metallica (EEEEEEEEEENNNNNNNNDEEEEEEE LLLLLLLLLLLLAAAAAAAAAAAAAAAAAIIII!!!!! ENNNNNNNNNNNNNNTTTTEEEEEEEE NNNNNNNAAAAIIIIII!!). Quem sabe Naughty Girl ou Shake Ya Ass, ou mesmo Don't Cha? E até Somebody Told Me se você tiver no clima do meu primeiro post.

Cheese faz paródias de rocks, pops, raps, o que der na telha. E com um de seus álbuns com um fenomenal trocadalho (I'd like a virgin), não poderia deixá-lo de listar. Dentre tantas músicas interessantes, optei pela que tem uma certa ligação com minha adolescência. O interessante é que você consegue prestar mais atenção a letra, já que a música
tem um ritmo bem mais lento e é mais claramente cantada:

Richard Cheese (Offspring) - Come out and Play


Offspring

2. Violent Femmes

Porque alguns covers são melhores que o original. Ponto. Tem algumas músicas que definitivamente são boas, mas por algum motivo só alcançam seu potencial máximo quando outras bandas ou artistas as cantam. Esse é caso com esses dois covers do Violent Femmes. A primeira está presente no álbum Why Do Birds Sing?, um dos últimos álbuns que realmente me marcaram (mesmo que eu tenho o escutado décadas depois de seu lançamento). Trata-se de uma versão maravilhosa para Do You Really Want to Hurt Me? do Culture Club/Boy George. Aliás, eu não sabia que era um cover até me contarem. Se você nunca ouviu a original, escute o cover antes:

VF:

CC:

A outra tem uma estória no mínimo curiosa. Lembro-me que um dia estava vendo TV, a uns bons anos, quando Gnarls Barkley ainda tocava nas rádios brasileiras, e seu novo single (Gonne Daddy Gonne) tocava num canal qualquer. E essa música é de quem? Do VF. Assim, a uns dois anos atrás, o VF fez o mesmo com Crazy, resultando numa versão mais interessante que a original.

VF:
(precisa colocar a original?)

VF ainda fez um ótimo cover de Children Of Reovlution do T-Rex. Procurem.

3. Devotchka - Venus in Fur

Novamente, mais um caso de "cover melhor que o original". Aliás, todas as versões que já escutei são melhores que a original (aguardando a inquisição espanhola). Essa canção está presente no Curse Your Little Heart, que Além de Venus in Furs tem Something Stupid. A versão do Devotchka é mais pesada, menos lisérgica, e possui a identidade da banda (escute Devotchka, não dá pra explicar). A banda você provavelmente ouviu caso tenha visto Pequena Miss Sunshine, já que a trilha sonora é toda deles.

Devotchka:

Velvet Underground:

Também gosto do cover feiro por Gary Numan e Little Boots no especial para a BBC 6. Acho melhor que o original, mas gosto mais da versão do Devotchka.

4. AFI - Just Like Heaven (The Cure)

Outra banda que teve certo impacto na minha adolescência. Por favor, desconsiderem a androgenia do vocalista,
ele já superou essa fase. O AFI, ou A Fire Inside, é uma banda que surgiu no cenário punk norte-americano dos anos noventa, e que foi desde "minha mãe não me deixa ter um moicano" até músicas sombrias sobre morte, suicídio e ostracismo - não me venham com 'coisa de emo', leiam as letras antes de falarem asneiras.

Minha época favorita é essa mais sombria, e em muitas letras você via uma certa influência do The Cure, admitida pelo próprio Dave Havok. Podia ter escolhido algum cover de Misfits feitos pela banda, contudo, esse me impressionou muito a primeira vez que escutei. Foi feito para um especial da MTV, onde várias bandas tocaram músicas do Cure. E vale lembrar que bem antes o AFI havia feito uma versão de Hanging Garden.

AFI

5. Nick Cave - Disco 2000 (Pulp)

Excelente. Bem diferente da original. Disco 2000 é uma música bem animada, pop honesto, uma quase canção de amor de adolescência reprimido. Soa como empolgação na voz de Javer Cocker, algo quase feliz. Soa como melancolia na voz de Nick Cave, algo como "vamos pular essa parte e ir logo para o futuro onde eu nunca mais te verei e, quem sabe, você possa me fazer feliz ao me dar um pouco de atenção". Essa versão está no segundo CD do single Bad Cover Version (f-o-d-a), do Pulp. Nada mais apropriado.

Nick Cave

Pulp

6. Face to Face - Tommy Gun (The Clash)

Em termos de punk/hc: Para que uma banda faça cover de Clash ela precisa ter muito culhão. Especialmente do Clash, afinal, cover de Ramones qualquer um faz, porque mesmo que a banda tenha surgido por influência dos Ramones, Clash está em um nível acima (aguardando a inquisição espanhola)

Face to Face fez um cover de Tommy Gun para o álbum Burning London: a tribute to The Clash. Um álbum com ótimos covers e outros péssimos. Péssimos. Tommy Gun é um das minhas músicas favoritas do The Clash e ela não está listada no álbum, é uma faixa secreta. Descobri a música por acaso, não lembro como. Só sei que foi uma surpresa MUITO agradável. A música é quase um cover nato - sem palhaçadas, sem "vamos colocar minhas visões nessa bagaça" e qualquer outra coisa do gênero. Não só foi muito agradável descobrir essa faixa escondida, como ver que foi feita por uma das bandas que mais curtia, mas que ouvia pouco. E o pouco que eu ouvia de Face to Face passava toda a energia que o punk e o hardcore costumavam ter (bem, a maior parte das bandas de 20 anos atrás - e isso é 1990... - ainda têm). E isso é o que um cover de Tommy Gun precisa. Falem o que quiserem do hardcore, falem o que quiserem do punk, falem o que quiserem de Clash e Face to Face, mas admitam que poucos estilos de música conseguem passar tanta energia e vibração.

Clash:

Face To Face:

7. Dresden Dolls - War Pigs (Black Sabbath)

Dresden Dolls era um duo de Boston composto por bateria, piano e um vocal poderoso de Amanda Palmer. Porra, fico chateado só de pensar que provavelmente nunca vou vê-los ao vivo (voltaram para uma mini turnê nos EUA). E Dresden Dolls de vez em quando fazia covers em seus shows. Alguns desses covers foram registrados. No geral todos os covers são muito bons, mas o de War Pigs se destaca. Se o pessoal do Black Sabbath presenteou a Nina Person com um buquê por causa de Iron man, deveriam presentear Amanda Palmer com um jardim. Exagero? Decida-se:

Dresden Dolls:

Black Sabbath:

8. Muse - Feeling Good (Nina Simone)

Eleita pelos fanboys e fangirls no NME como o melhor cover de todos os tempos (nem eu considero isso), é um excelente cover. Curiosamente, não sabia que era um cover nas primeiras vezes que ouvi. Não desgosto da versão original, mas prefiro o cover. O cover é mais energético e combina muito com o clima da letra escrita pela Nina Simone. Não há muito o que ser dito. Faz parte do segundo álbum da banda, o Origin of Symmetry, e agrada bastante os fãs, sendo uma das canções que todos cantam a plenos pulmões nos shows.

Muse:

Nina Simone:

9. Maniac Street Preachers - Umbrela (Rihanna)

Pois sim! Uma música chata como Umbrela pode ficar muito bacana nas mão certas. Não é uma versão palhaça como Travis fez para Baby One More Time, pelo contrário, é bem trabalhada e faz com que essa música torne-se audível. Me agrada bastante porque não é uma zoação ou uma coisa meio forçada. E Maniac é uma banda bem subestimada cá nas terras tupiniquins, não acham?

Maniac Street Prechers

10. Bauhaus - Ziggy Stardust (David Bowie)

É agora que a inquisição me mata: prefiro o cover. Nada mais a comentar. Mentira. Não tenho absolutamente nada contra a original, muito pelo contrário. É apenas questão de gosto.

Bauhaus

David Bowie

11. Teenage Fanclub - Here Comes Your Man

Pode alguém estragar essa música? Pode. Pode alguém fazer essa música ficar melhor? Também. Como eu já vou pra fogueira mesmo, digo o seguinte: sempre gostei da original e ainda gosto. Mas ela enjoa, a ponto de ficar praticamente uma música chata. E na minha modestra opinião, com o Teenage ela fica menos chata e demora mais pra enjoar.

Se não me falha a memória, esse cover está no single de I Need a Direction. Fâs do Pixies, escutem. Fãs do Teenage que não sabiam do cover, escutem também.

Teenage Fanclub

sábado, 16 de outubro de 2010

Mais álbuns "mais fodas que ninguém ouviu"...

Faz um tempinho o Adilson postou sobre os álbuns fodas que ninguém ouviu. Pois acho que o tema pode ser apropriado de outras formas: “os álbuns mais fodas que ninguém ouviu, só eu”, “os álbuns mais fodas que eu ACHO que ninguém ouviu”, “os álbuns mais fodas que ninguém ouviu, POR AQUI”, “os álbuns que eu acho foda e NÃO CONTO pra ninguém”... Vai por aí. Começo de trás para frente. E que me critiquem, julguem, tirem sarro... Mas ouçam os álbuns depois!

I – Os álbuns que eu acho foda e não digo pra ninguém:

Hanson – This Time Around (2000)
Foi o último dos Hanson por uma grande gravadora, a Island, da Universal. Nada de vozinhas a la Jackson Five e singles jingles tipo "Mmmpop" – na minha humilde opinião, uma das melhores canções pop do fim da década de 90 – ou "Where's The Love". Aqui, logo na abertura do álbum, “You Never Know': um toma distraído pros preconceituosos de plantão, os primeiros a detonar o trio. A faixa não nega um pezinho dos Hanson no hard rock americano. Não vou fazer um faixa-a-faixa senão o post vai ficar gigante e daí dá preguiça. Vão lá ouvir que vale mais a pena: "You Never know", "Runaway Run" – a guitarra faz referência aos melhores hits rock pop do fim dos 80, "If Only "– essa tocou um moooonte na MTV e a letra engatada é trava língua até pra quem já passou do intermediário no inglês - dá vontade de cantar junto -, "This Time Around", "Can't Stop", "Hand in Hand", "In the City" – um “também dá pra ser roqueiro”. Pop, pop, pop, “This Time Around” prova que dá pra fazer o melhor da fórmula estrofe – ponte – refrão. Depois dele a banda se cansou do modo indústria fonográfica de produzir álbuns e saiu da Island para assumir as rédeas da carreira, fundando seu próprio selo e lançando mais três álbuns de lá pra cá: Underneath (2004), The Walk (2007) e Shout It Out (2010) – ainda não escutei o último, mas o título de fodão, até agora, fica pro “álbum de passagem”.
E então? Criou coragem para se dedar e revelar o que acha foda mas tem vergonha de admitir? Deixa um comment, então, só quero ver...

Pra ouvir e entender: http://www.hanson.net/site/sections/206

http://www.youtube.com/watch?v=TLjbgqkwTGQ (ao vivo, há uns aninhos; tente abstrair as histéricas atrapalhando a música... Ainda faço um post disso... As histéricas dos shows dos Hanson... Uma praga.)

II - Os álbuns mais fodas que ninguém ouviu, por aqui.

Agustana – All the Stars and Boulevard (2005)
Este é imperdoável. Não entendo como nunca chegou pras bandas de cá.
Conheci o Augustana meio que por acidente. Estava morando em New Jersey (EUA) e sempre escutava uma música liiinda no rádio, daquelas bem deprês, melosinhas, tristes, mas que a gente não consegue evitar. Só que – maior problema das rádios e, agora acredito, problema internacional! - nunca diziam o nome da banda. Um belo dia, vou feliz, lépida, realizada, a um show do Snow Patrol em Nova Iorque. Daí que havia uma certa comoção com a banda de abertura e eu neeeeem. Todo mundo comprando cd, camiseta de um tal de Augustana. Eis que o show de abertura começa, todo mundo berra as músicas e a última... A MÚSICA DA RÁDIO!!!! “Boston”, do Augustana. Agustana. Já ouviu falar??? Desafio encontrar alguém que já ouviu uma música deles numa rádio brasileira. No dia do show não comprei o álbum, minha missão era conseguir camisetas do Snow Patrol – uma pra mim e uma pro Adilson! Que ironia! - e não tive nem tempo de pensar. Fui comprando as músicas todas pelo itunes, mas, de volta ao Brasil, roubaram meu ipod e agora estou orfã de Agustana. Só youtube. Podem ir lá conferir: Boston, Stars and Boulevard... Ah! Coloca Augustana de uma vez que tem coisa mais recente foda igual... “Augustana, a banda foda que ninguém ouviu, POR AQUI”, resume melhor a questão. Pra quem gosta de um pianinho “que dói”. Só um toque: super difícil achar as faixas para download. Coisa de gravadora. Se achar um caminho fácil, me avisa, por favooor.

Pra ouvir e entender: http://www.augustanamusic.com/music/all-stars-and-boulevards

http://www.youtube.com/watch?v=IlZzf3SjsP4&ob=av2n


III - Os álbuns mais fodas que eu acho que ninguém ouviu

Mew – “Frengers” (2003)
Esse é um álbum estranho de uma banda que parece que veio do mundo do Tolkien, cheio de elfos... O Mew é da Dinamarca, então dá pra entender a analogia... “Frengers” é um álbum com clima. A voz do vocalista é meio fanha e super aguda e os efeitos sonoros e melodias, nada óbvias, ajudam a construir o tal clima – meio etéreo, tipo “Terceira Dimensão”. Os especialistas desculpem a falta de precisão, mas vou ter que ficar fazendo analogias pra explicar um pouco o que é o som desse álbum. As guitarras são fortes, mas sem histeria, a bateria tem uma pegadinha eletrônica, tem teclado/ piano... E de fundo tem sempre um “ruído do universo”... Entenderam? Uma coisa meio “Interpol meets Enya”! Vai entender! Melhores faixas: “Am I right? No”, “Symmetry” (essa acho que o Snow Patrol “chupinhô” em “Set The Fire To The Third Bar”, que eu adoro...), “Snow Brigade”, “Eight Flew Over,One Was Destroyed”, “She came home for Christmas” (essa é fácil, de tocar nas rádios, tem refrão e tudo, mas por aqui nada, né, que eu me lembre), “She Spider”, “Comforting Sounds” (outra chupinhada pelo Snow Patrol... hmmm “Chasing Cars?”... Qualquer semelhança...Será? Gosto das duas, mas gosto bem mais da “original”)... Isso é quase o álbum todo! Por isso é fodão! Ah! O primeiro lançamento é de 2003 e tem, além de composições daquele ano, uma coletânea do melhor dos dois primeiros álbuns independentes da banda.
Esse é o melhor do post. Se tiver com preguiça ou se desconfia muito de mim, começa por aqui!

Pra ouvir e entender: http://www.mewsite.com/music/no-more-stories-are-told-today-im-sorry-they-washed-away-no-more-stories-world-grey-im-tired-l

http://www.youtube.com/watch?v=4JVUvC74D8w

Divirta-se!
obs.: querido amigo Adilson que está além-mar, passando férias, e que me deixou aqui morrendo de inveja - prometo trabalhar melhor a estética do post quando meu Mozilla parar de me sabotar.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Oh, baby!

Fazia um bom tempo que não escutava Sleater-Kinney e resolvi "matar a saudade". Escolhi um dos álbuns que tenho, sem seguir nenhum critério, e calhou de ser o All Hands On The Bad One. Enquanto tocava Milk Shake and Honney resolvi prestar atenção na letra. Pois bem! É basicamente uma letra sobre um relacionamento, digamos, mais pro campo do sexo sem compromisso do que outra coisa. Em determinada parte da música ela canta (já traduzindo para o português):

Continue a me excitar
Com essas palavras em francês
Que não consigo pronunciar

Bem direto, não? E isso me fez prestar atenção, ou me dar conta, de tantas outras músicas do pop norte-americano e britânico que falam sem rodeios de sexo - e sem caírem na vulgaridade. Vale lembrar que não falo aqui de músicas "talk dirty with me", ou coisa que o valha. Falo de músicas que dizem coisas como:


Oh I know
that you're engaged to him
Oh, but I know
you want something to play with baby


I'll be around when he's not in town
I'll show you how you're doing it wrong
I really love it when you tell me to stop
Oh it's turning me on

(Pulp - Pencil Skirt)


Oh, oh, oh...
Well you'll always be together
Cause he gets you up in leather
And you know what to wear at the end of the day
And I'd laugh if I saw
Put them out of the way
Yeah, it's too long ago, shouldn't care anymore
But I wanted to know
Is it as good as before?
Yeah, it's hard to believe that you go for that stuff
All those baby-doll nighties
Synthetic fluff

(Pulp - Pink Gloves)


Come on dad gimme the car
Come on dad gimme the car tonight
I tell'ya what I'm gonna do
I'm gonna pick her up
I'm gonna get her drunk
i'm gonna make her cry
I'm gonna get her high
I'm gonna make her laugh
I'm gonna make her...shh
woman, woman, woman

she gotta knows she's it
cause I'm gonna touch her
all over her body
gonna touch her
all over her body

(Violent Femmes - Gimme The Car)


Admito que algumas delas podem até soar vulgares, mas pelo menos não ficam cheias de dedos ou escrevem coisas chulas. Basicamente é isso que ouço nas músicas pops brasileiras - ou a pessoa fica com eufemismos ridículos e frases cafonas (fazer amor / amor com cheiro de virada), ou são extremamente vulgares beirando o folclórico do machão (não que isso não seja engraçado em seus momentos) alá Velhas Virgens.

Alguém pode argumentar que isso é porque não falamos inglês como primeira língua, assim, tudo soa menos vulgar numa língua estrangeira. Mas não acho que seja esse o caso. "Estarei por perto enquanto ele estiver fora / te mostrarei como está fazendo errado / adoro quando me manda parar / está me excitando" não soa pior do que a versão na língua mãe, e nem "Mas eu queria saber, é tão bom quanto antes? / Sim, é difícil acreditar que você faz essas coisas / Todas esses baby-dolls sintéticos" . Logo, acredito que seja a forma quase que com vergonha ou falta de jeito que o brasileiro lida com o tema. A impressão que dá é que ou tem-se que falar de forma quase que velada, ou tem que ser explícito querendo dizer "É só sexo! Não tem nada de demais!" - obviamente, funk não se encaixa aqui por pertencer ao grupo "talk dirty".

A impressão que tenho é de, ainda hoje, parecer existir um certo receio de abordar o tema de forma mais aberta, não sei se por medo de soar subversivo e contra os bons costumes e a dignidade, ou ferir os sentimentos alheios. Ou quem sabe até, isso é algo de nossa cultura. O falso liberalismo - tudo pode em época de carnaval, na pode fora do carnaval. Falar de sexo só se você for baixo como "essa gente do funk", "esses perdidos do rock'n'roll" (leia-se: bandas que falam de puteiros, putas, mulheres objetos, bacanais). Contudo, o sexo casual, entre amantes, entre amigos com benefícios, e por aí vai, parece ainda pertencer ao mundo do "guarde para si! Não nos envergonhe". Acredito, também, que tenha algo a ver com essas músicas terem um contexto. Não são simplesmente um monte de palavras jogadas para falar sobre o ato por falar, ou uma sequência de frases pervertidas simplesmente para "chocar". Não tenho nada contra uma boa metáfora, ou um eufemismo mais sagaz (sem trocadilhos), porém, acho mais vergonhoso falar por eufemismos e metáforas baratas.