segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Oh, baby!

Fazia um bom tempo que não escutava Sleater-Kinney e resolvi "matar a saudade". Escolhi um dos álbuns que tenho, sem seguir nenhum critério, e calhou de ser o All Hands On The Bad One. Enquanto tocava Milk Shake and Honney resolvi prestar atenção na letra. Pois bem! É basicamente uma letra sobre um relacionamento, digamos, mais pro campo do sexo sem compromisso do que outra coisa. Em determinada parte da música ela canta (já traduzindo para o português):

Continue a me excitar
Com essas palavras em francês
Que não consigo pronunciar

Bem direto, não? E isso me fez prestar atenção, ou me dar conta, de tantas outras músicas do pop norte-americano e britânico que falam sem rodeios de sexo - e sem caírem na vulgaridade. Vale lembrar que não falo aqui de músicas "talk dirty with me", ou coisa que o valha. Falo de músicas que dizem coisas como:


Oh I know
that you're engaged to him
Oh, but I know
you want something to play with baby


I'll be around when he's not in town
I'll show you how you're doing it wrong
I really love it when you tell me to stop
Oh it's turning me on

(Pulp - Pencil Skirt)


Oh, oh, oh...
Well you'll always be together
Cause he gets you up in leather
And you know what to wear at the end of the day
And I'd laugh if I saw
Put them out of the way
Yeah, it's too long ago, shouldn't care anymore
But I wanted to know
Is it as good as before?
Yeah, it's hard to believe that you go for that stuff
All those baby-doll nighties
Synthetic fluff

(Pulp - Pink Gloves)


Come on dad gimme the car
Come on dad gimme the car tonight
I tell'ya what I'm gonna do
I'm gonna pick her up
I'm gonna get her drunk
i'm gonna make her cry
I'm gonna get her high
I'm gonna make her laugh
I'm gonna make her...shh
woman, woman, woman

she gotta knows she's it
cause I'm gonna touch her
all over her body
gonna touch her
all over her body

(Violent Femmes - Gimme The Car)


Admito que algumas delas podem até soar vulgares, mas pelo menos não ficam cheias de dedos ou escrevem coisas chulas. Basicamente é isso que ouço nas músicas pops brasileiras - ou a pessoa fica com eufemismos ridículos e frases cafonas (fazer amor / amor com cheiro de virada), ou são extremamente vulgares beirando o folclórico do machão (não que isso não seja engraçado em seus momentos) alá Velhas Virgens.

Alguém pode argumentar que isso é porque não falamos inglês como primeira língua, assim, tudo soa menos vulgar numa língua estrangeira. Mas não acho que seja esse o caso. "Estarei por perto enquanto ele estiver fora / te mostrarei como está fazendo errado / adoro quando me manda parar / está me excitando" não soa pior do que a versão na língua mãe, e nem "Mas eu queria saber, é tão bom quanto antes? / Sim, é difícil acreditar que você faz essas coisas / Todas esses baby-dolls sintéticos" . Logo, acredito que seja a forma quase que com vergonha ou falta de jeito que o brasileiro lida com o tema. A impressão que dá é que ou tem-se que falar de forma quase que velada, ou tem que ser explícito querendo dizer "É só sexo! Não tem nada de demais!" - obviamente, funk não se encaixa aqui por pertencer ao grupo "talk dirty".

A impressão que tenho é de, ainda hoje, parecer existir um certo receio de abordar o tema de forma mais aberta, não sei se por medo de soar subversivo e contra os bons costumes e a dignidade, ou ferir os sentimentos alheios. Ou quem sabe até, isso é algo de nossa cultura. O falso liberalismo - tudo pode em época de carnaval, na pode fora do carnaval. Falar de sexo só se você for baixo como "essa gente do funk", "esses perdidos do rock'n'roll" (leia-se: bandas que falam de puteiros, putas, mulheres objetos, bacanais). Contudo, o sexo casual, entre amantes, entre amigos com benefícios, e por aí vai, parece ainda pertencer ao mundo do "guarde para si! Não nos envergonhe". Acredito, também, que tenha algo a ver com essas músicas terem um contexto. Não são simplesmente um monte de palavras jogadas para falar sobre o ato por falar, ou uma sequência de frases pervertidas simplesmente para "chocar". Não tenho nada contra uma boa metáfora, ou um eufemismo mais sagaz (sem trocadilhos), porém, acho mais vergonhoso falar por eufemismos e metáforas baratas.

Um comentário:

  1. Brasileiro é pudico. Sexo é tabu, ainda mais o casual, e ainda mais se for mulher.

    ResponderExcluir