segunda-feira, 14 de março de 2011

Talking Heads e sua cauda longa


Há poucos dias lembrei de uma banda antiga que conhecia muito pouco. Pra corrigir esse meu erro, ouvi seus discos e fiquei surpreso com duas coisas: a primeira é de que conhecia mais musicas deles do que pensava. A segunda é de que confirmei como a banda influenciou - direta ou indiretamente - o som da quase totalidade do que a gente conhece hoje como som "indie", que surgiu na década de 1980, se diluiu nos anos 1990  e reapareceu a partir dessa última década.

Para mim, eles fizeram mais que influenciar. Vou me arriscar aqui a cometer uma possível heresia - do que adianta escrever sem criar polêmica? Talking Heads foi o precursor, o marco zero, do que hoje chamamos de indie rock. O som da banda se baseia em música pop, punk rock, world music e o que chamam de art rock. O segredo da banda, pra mim, foi conseguir misturar uma certa crítica cotidiana nas letras com uma pitada de experimentalismo, transformando o que seria supostamente chato em algo extremamente palatável e, até certo ponto, de alto astral, dignos do que o rock é capaz de fazer.

O som da banda influenciou uma leva grande de bandas e músicos. Usando pouco esforço, dá pra comparar e perceber certas semelhanças nos sons de bandas recentes com o que o Talking Heads começou a fazer a mais de 30 anos atrás. Pra isso, classifiquei o som do Talking Heads em fases distintas, pra ficar melhor de explicar.

A primeira fase do Talking Heads  é muito puxada pro que a gente pode chamar de pós punk. É um som mais de banda de garagem e incluo os 3 primeiros álbuns: "77", "More Songs about Buildings and Food" e "Fear of Music". Franz Ferdinand e várias outras bandas do gênero (Futureheads, Maximo Park, The Rakes) lembram muito TH dessa época. Olha só:

Talking Heads - Found a Job

Franz Ferdinand - The Dark of The Matinee

The Rakes - Work, Work, Work (Pub, Club, Sleep)


Considero a segunda fase do Talking Heads uma mistura entre o rock e elementos mais dançantes, provavelmente misturando elementos da disco e algum experimentalismo. "Remaining in Light" e "Speaking in Tongues" são os dois álbuns que tem as sonoridades parecidas. Dessa leva, alguns sons lembram muito LCD Soundsystem.

Talking Heads - Once in a Lifetime

LCD Soundsytem - Home

A terceira fase é a mais pop e foi com os álbum "Little Creatures" e o "True Stories" que a banda fez sucesso com músicas mais palatáveis. Apesar de ser pop, a banda começa a introduzir sons mais experimentais , além de uma marcação mais caribenha. As músicas de maior sucesso comercial estão nessa fase e, antes de muita banda, eles começaram a fazer o povo dançar. B52's e REM são influenciados por essa fase do TH. Ouve:

Talking Heads - Love For Sale (1986)

B52's - Love Shack (1989)

A quarta e última fase mostra um som mais world music, com elementos africanos e brasileiros se incorporando ao som da banda. O álbum que mais tem essa roupagem é o "Naked", de despedida do quarteto. Paul Simon e Vampire Weekend beberam muito dessa fonte...


Talking Heads - (Nothing But) Flowers

Vampire Weekend - Cape Cod Kwassa Kwassa

Antes de terminar, deixo três curiosidades do Talking Heads:

* Radiohead só tem esse nome por causa de uma música homônima do Talking Heads, do álbum "True Stories". A música nem tem a ver com o som da banda do Thom Yorke, mas fica o registro.

* "(Nothing but) Flowers" foi a música do Talking Heads que protagonizou um episódio emblemático no showbiz brasileiro. Caetano Velozo, no VMB 2004, perdeu a linha - e com razão - depois do som ter flahado duas vezes na hora em que ele e David Byrne (vocalista remanescente da banda) foram tocar a música no prêmio. O link está aqui e vale a pena dar uma olhada!

* David Byrne gostou tanto dessa idéia de fazer sons brasileiros que hoje ele é figurinha fácil em álbuns de cantores brasileiros: Naná Vasconcelos, Marisa Monte, Tom Zé, Margareth Menezes são alguns dos músicos brasileiros que já gravaram com ele.

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