quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sertanejo Universitário: Você está ouvindo a mesma música em loop!


Esse post foi, digamos, "incentivado" depois que fui na formatura de 2º grau de minha sobrinha. Em Minas - e em uma parte maciça do Brasil - o chamado "sertanejo universitário" é um estrondoso sucesso. Vide a repercussão sobre Luan Santana, Victor e Léo e os CD's de coletânea da Somlivre que não param de serem anunciados na emissora do finado Roberto Marinho. Não se fala de outra coisa.

Este chamado "sertanejo universitário" nada mais é do que música pop meio mascarada. Digamos que a parte sertaneja fica por conta das melodias meio cancioneiras inspirados lá dos tempos de Chitãozinho e Xororó, Zezé & Luciano e no country americano. A parte universitária responde à harmonia (a música sem a parte cantada) que é pop até o último fio de cabelo. Isso tudo é requintado com solos brega com guitarras, digno de Amado Batista.

Na verdade eu não tinha muita implicância com o gênero pois é mais aceitável para os ouvidos do que outros ruídos por aí que chamam de música/manifestação cultural (de merda!). Só depois de escutar várias delas em seguida e sem querer, eu notei uma coisa: estava ouvindo a mesma música, em forma de loop! Eu explico:

Você já deve ter ouvido uma música com os mesmos acordes que outra música tem, certo? Tipo "La Bamba" do Ricky Valley e "Twist and Shout" dos Beatles. Bandas de formatura costumam tocar inclusive essas músicas emendadas umas nas outras, pra não perder o ritmo, sacomé..."Open Your Eyes" do Snow Patrol e "I Got a Feeling" do Black Eyed Peas também são meio assim, "parecidas"(pra não falar iguais). Se você ainda está boiando, ouve só:

Snow Patrol (Open Your Eyes)+Black Eyed Peas (I Got a Feeling)


A maioria das vezes em que isso acontece é por coincidência (um não tem a menor intenção de copiar o outro) e por uma coisa muito comum na música pop: o formato da música. É como se você, pra fazer uma música, usasse uma mesma fôrma de bolo: eles vão ficar iguais, mas vão ter sabores diferentes, dependendo da receita. Algumas receitas, como o "bolo de chocolate" é sempre muito usado, tanto na cozinha como na música. Aí mora o problema.

Existe, na música pop, uma fórmula muito usada. E ela serve pra qualquer tom que a música tenha. É difícil explicar sem ser de forma técnica mas vou tentar: é como se você usasse uma régua marcada com 4 buracos (acordes) e, usando aquela régua, você conseguisse sempre uma excelente medida (harmonia da música) marcando os buracos nas suas distâncias certas, seja qual for seu ponto de início (tom da música).  Usar a régua marcada é quase garantia de sucesso.

Eu me espantei como essa régua é usada, descaradamente, nesse sertanejo universitário. Pedi a um amigo que conhece as músicas sertanejo-universitárias que estão fazendo sucesso que me passasse uma lista com umas 12 músicas mais ou menos. Eu fiquei espantado com o que ouvi quando juntei algumas delas. O resultado eu comprovo abaixo (Não se preocupe, são só trechos. Você não vai precisar ouví-las na íntegra =D):

Luan Santana (Adrenalina) + Paulo Leite e Cristiano (Tô Fora) + Victor & Léo (Ao Vivo e Em Cores)


Com 3 músicas deu pra fazer uma só! E é bom que economiza também, pois se eles fizerem show juntos dá pra contratar só uma banda! E não pára por aí, tem mais:

Guilherme e Santiago (Tá se achando) + Maria Cecília e Rodolfo (Você Não Merece) + César Menotti e Fabiano (Labirinto)*

*Um detalhe: a música do César Menotti e Fabiano é meio tom maior do que as outras duas, mas que não causa muito prejuízo na hora de escutar.

Os dois "mix" de música usam a tal fórmula da régua. E o mais impressionante é que nem o ritmo (velocidade) delas muda: é sempre a mesma levada. Isso mostra uma pobreza musical sem precedentes. Imagine que você ganha um CD com, sei lá, 12 músicas e percebe que 6 delas são praticamente A MESMA MÚSICA! Não estou falando de músicas parecidas, estou falando DA MESMA MÚSICA! Os mais chatinhos vão falar que a letra é diferente, que a melodia também é... mas você consegue ouvir essas compilações e ficar indiferente a isso? Acredito eu que não.

Esse formato não se restringe a música sertaneja universitária. Muitas outras músicas internacionais padecem do mesmo mal. Esse vídeo - muito bom, por sinal - tira sarro disso:



Não estou querendo acusar estes artistas de serem levianos ou que usaram essa fórmula pra fazerem sucesso. Quis demonstrar aqui que a criatividade e a falta de coisas novas no mercado fazem com que fiquemos achando que esse movimento é uma grande novidade em termos musicais. E meu problema não está, necessariamente no formato das músicas, e sim, no uso à exaustão de um recurso muito pobre em criatividade e frescor musical.

Não sou preconceituoso com música brasileira, prova disso são as várias recomendações de músicas e artistas do Brasil com altíssima qualidade (segundo minha opinião de merda). A gente sabe: muitos dessas duplas aparecem com os modismos e somem na mesma velocidade, assim, de repente. O que eu quis mostrar como é fraco o mercado de música para as massas no Brasil. Por isso, prestem atenção aos ouvidos e, se puder, ouça algo que não sejam os mesmos 4 acordes, ok?

3 comentários:

  1. Cara esse seu texto está excelente, e eu como professor de música recebo muito pedido de aluno querendo estudar essas magníficas canções. De uns tempos para cá, tirei umas 10 outras músicas dessas duplas para passar para os alunos e fico espantado como essa sequência I V vi IV vem sendo utilizada à exaustão (principalmente na forma A E F#m D). Só desse tal Luan Santana tem umas 5 que são precisamente assim.
    Claro que o problema não é exclusivmente esse. O próprio rock n roll dos anos 50 era simplório em termos de harmonia e melodia (pros velhos daquela geração, quase o equivalente ao que o funk carioca é para nós). Mas nessa modinha sertaneja, o conteúdo lírico também está uma pobreza absoluta. As canções se dividem entre romances frívolos, pegação ou bebedeira. E só. Não há poesia, ousadia ou mesmo metáfora. O mais perto de conteúdo poético nessas letras são trocadilhos infames que, convenhamos, até os forrozeiros sabem fazer melhor. As melodias são ridiculamente semelhantes (esse Luan Santana é um fenômeno nesse aspecto) e até as batidas por minutos são a rigor as mesmas. A variação entre graves, médios e agudos? Uniforme em todas as duplas. E porque afinal "duplas"? Porque não um trio ou quarteto? Porque não daria para vender como um produto, imagino eu. Acordes diminutos ou melodias mais dissonantes são proibidos.
    E antes que fulano venha fazer comparação, o rock n roll em geral começou simples, mas teve um impacto cultural no puritano e hipócrita modo de vida americano e posteriormente no mundo inteiro. A geração dos anos 60 expandiu a cartilha lírica e harmônica do rock, elevando-o à categoria de arte.
    A pergunta é, qual é o legado que esta geração 4 acordes insossa vai deixar?

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  2. OS REFROES SEMPRE TEM 2 TONS MAIORES 1 TOM MENOR AI VOLTA PARA UM TOM MAIOR (A E F#m D) É UMA FORMULA QUE DA CERTO MAIS É UMA M...

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  3. Há várias músicas com a mesma progressão harmônica, tais como With Or Without You, do U2; Wherever You Will Go, do The Calling; She Will Beloved, do Marroon 5 e Don't Stop Believing, do Journey. Há uma série de vídeos no YouTube (são 28 até o momento) mostrando essas semelhanças

    http://www.youtube.com/watch?v=y4fdSuUvb78&feature=BFa&list=PLF39445307C76B876&lf=results_main

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