segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O mundo pós-Los Hermanos (parte 1?)

Desde que a banda Los Hermanos saiu do cenário nacional temporariamente, nenhuma banda, que veio do universo indie, sequer se aproximou do prestígio e sucesso que os quatro cariocas obtiveram. Com as coisas cada vez piores para o cenario fonográfico e com a impopularidade crescente do rock, o cenário musical de hoje padece de uma, qualquer uma, banda que tenha algum som descente. E que toque minimamente em algum lugar.

Bruno Medina, Rodrigo Barba, Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo.

A história do Los Hermanos é bastante peculiar. Seu álbum de estréia (Los Hermanos, de 1999) é basicamente de Hardcore e Ska com letas que falavam principalmente - se não for em sua totalidade - sobre relacionamentos. A intenção da banda foi misturar o ritmo bem californiano do ska com letras e identidades brasileiras. Só que alguma coisa no meio do caminho deu muito certo - ou muito errado, dependendo do ponto de vista. A música "Anna Júlia" não fez só sucesso, mas se tornou onipresente em toda e qualquer rádio no Brasil. E alcançou até outros lugares, com versões em espanhol e italiano. O auge foi a versão inglesa de Jim Capaldi onde George Harrison (esse mesmo, dos Beatles!) participa do solo da música. E a coisa ficou tão "feia", que até duplas sertanejas regravaram. Mas isso eu nem vou esticar...vale a pena não.

Jim Capaldi e seu clipe "safado" de Annahhh Djuliahhh

Bom, o tempo passou e, é claro, o megahit trouxe um trauma pra banda. A pergunta que se fez é como seria o próximo disco, já que seria difícil desvincular a imagem da banda ao hit tão hypado. A resposta veio com o "Bloco do Eu Sozinho" (2001), onde o Los Hermanos amadureceu bastante nas composições musicais. O ska já se misturava mais com o samba, a levada ficou mais lenta e as letras tinham um jogo de metáforas e sutilezas muito interessantes. A crítica gostou e, por um momento, a banda abandonou "Anna Julia" num quarto escuro de castigo.

"Ventura", terceiro álbum da banda, de 2003, é, pra mim, o melhor do quarteto. Mais lento, é verdade, mas com mais profundidade e com letras bem amadurecidas. Este álbum tem um pé maior no samba e traz grandes composições. Ele consolidou a carreira da banda, tendo boa repercussão na crítica. E fez a banda uma das mais significativas de rock naquele momento.

Já o quarto álbum, "4" (dã), é um disco que, se você estiver levemente cabisbaixo e começar a ouvir, você corta seus pulsos. Tem uma carga dramática muito grande e pesa a mão nas letras soturnas e melancólicas. Esse álbum foi o último antes da banda encerrar suas atividades, segundo eles, de forma temporária. Depois da parada, a banda reapareceu em algumas apresentações especiais (como a abertura dos shows do Radiohead no Brasil) e um ou outro festival. Bruno Medina, que tem um blog no G1, costuma ser o porta-voz do atual estado da banda: se farão shows, se estão de férias ou se não estão nem aí.

O que deixa muita gente de nariz torcido com o Los Hermanos é o fato de suas entrevistas serem, quase sempre... digamos... improdutivas. A postura da banda demonstrava como o grupo queria sair do rótulo de "banda de uma música só" que alguns teimaram em lhes colocar. Isso resultou numa postura ríspida, com respostas mau dadas ou malcriadas. Em qualquer entrevista, a banda sempre se mostrou cética e blazé, sem motivo aparente, até mesmo pra perguntas sem qualquer tom de maldade. E, com razão, suas declarações "esquivantes", deixariam qualquer um irritado.

Além disso, a combinação do rock de garagem e das letras, que falavam do cotidiano e, principalmente, dos problemas de relacionamento amorosos (a.k.a. "dor de cotovelo") touxeram uma enxurrada de fãs. A identificação do público jovem foi certeira e, desde então, é fervorosa. Bem fervorosa! Tamanha era a adoração que, nos shows, mal se ouvia a banda. A platéia, em uníssono, cantava todas as músicas de cor. Até aí, tudo bem.  Mas o grande inconveniente do fã de Los Hermanos, em especial,  era a impetuosidade e a adoração  incondicional (coisa de todo fã) que se potencializou por seu público ser composto de jovens adultos carentes de referências musicais no cenário brasileiro. O que quero dizer é que a banda se tornou o porta-voz das angústias juvenis de uma geração. E não vejo exagero da minha parte em falar isso. Atire a primeira pedra quem nunca "talibanizou" um fã de Los Hermanos! O clipe da música "O Vencedor" é o retrato do que falei há pouco, sobre shows e cantoria:

Los Hermanos - O Vencedor  (e um pouco de vergonha alheia)

Mas o fato é que, fale bem ou fale mal, o Los Hermanos conseguiu conquistar um mercado que, no Brasil, era de pouca significância. O alcance das músicas, o reconhecimento da crítica e do público e, principalmente, a qualidade das composições, fizeram com que a banda conseguisse sucesso e despontasse como referência de som roqueiro no cenário nacional. O nicho foi aberto e, até hoje, não foi ocupado ou explorado.

Hoje, para as bandas indies novas que tentam certo conhecimento no mercado, a comparação com Los Hermanos é inevitável. E até irritante, já que, de som "indie", o Brasil, tem poucas referências famosas. Herança bendita e maldita! Pretendo, mais a frente, postar sobre como algumas bandas tentam notoriedade no lugar que, um dia, o Los Hermanos ocupou.

Um comentário:

  1. Realmente esse fanatismo dos fãs dos LH me faz ter implicância com a banda. Mas a banda é muito boa.

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